GT coordenado pelo Ministério Público discute ações de prevenção ao suicídio

“Os tabus que envolvem essa temática têm que ser quebrados. É preciso falar sobre o suicídio para saber agir e prevenir, não só no 'Setembro Amarelo', mas de janeiro a janeiro”. A afirmação foi feita pela 2ª promotora de Justiça de Defesa da Saúde de João Pessoa, Jovana Maria Silva Tabosa, durante reunião do grupo de trabalho criado para debater ações e políticas públicas para prevenção ao suicídio, assistência e posvenção. Dados parciais mostram que, nos primeiros seis meses deste ano, foram registradas 231 tentativas de suicídio na Paraíba, um dado, que, para os integrantes do GT, ainda é subnotificado, embora preocupante.

A promotora de Justiça, que coordenado o GT como representante do Ministério Público da Paraíba (MPPB), destacou que os órgãos integrantes do grupo de trabalho estão trilhando um caminho que, inicialmente, inclui a provocação da discussão da problemática pela sociedade e por representantes de órgãos públicos com atuação relacionada ao tema. A ideia é criar também um plano de trabalho a ser executado, primeiramente, na região polarizada por João Pessoa, que registra o maior número de casos. Ficou deliberado que o assunto seria levado à Comissão Intersetorial Regional da Saúde (CIR), para que analise as medidas que podem ser negociadas e pactuadas entre os gestores municipais da região e a Secretarias de Estado da Saúde.

Durante a reunião, que ocorreu na Sala de Sessões dos Colegiados, o representante do Corpo de Bombeiros Militar da Paraíba, tenente-coronel Erik Francisco Silva de Oliveira, apresentou um levantamento sobre os índices de suicídio registrados no Estado, com base em dados coletados de sistemas de informação do Ministério da Saúde (a exemplo do Sinan e SIM). O levantamento, mostra, por exemplo, que a maioria das tentativas de suicídio, este ano, foi por envenenamento e a faixa etária mais atingida foi a de jovens entre 20 e 29 anos.

Subnotificação: falta de hábito
Os dados, segundo os integrantes, são importantes para apontar formas de atuação dos órgãos no sentido de prevenir novos casos. Mas, uma das discussões do GT é o problema da subnotificação. Ainda há uma falta de hábito dos profissionais da área de saúde de registrar as tentativas de suicídio, embora a notificação de casos seja compulsória. Isso é importante não só para as estatísticas, mas para o encaminhamento e tratamento de pessoas com ideação suicida, segundo o GT.

Além da falta de cultura da notificação, o presidente da Associação Paraibana de Psiquiatria da Paraíba, José Brasileiro Dourado Júnior, registrou que, este ano, o Ministério da Saúde liberou recursos para seis estados do Brasil, objetivando custear ações de saúde em prevenção de suicídio e a Paraíba não está entre eles. O médico também falou da importância da medicação para o tratamento de pessoas com ideação suicida, tanto no sentido do acesso pelo SUS, quanto na forma correta de receitar.

A coordenadora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Município de João Pessoa, Alessandra Gomes da Cruz, solicitou o prazo de 15 dias úteis, para remeter à Promotoria de Justiça, informações para se compor um mapa com números de suicídios consumados e tentativas, no município de João Pessoa, bem como a possibilidade dos registros serem feitos por bairros, o que poderia indicar uma atuação prioritária dos órgãos.

O CVV
O coordenador do Centro de Valorização da Vida (CVV), em João Pessoa, André Luis Fagundes da Silva, informou que o serviço, que atende pelo número de telefone 188, atendeu apenas na última segunda-feira (25) um total de 7.029 ligações. Ele disse que ainda não tinha como precisar quantas dessas ligações eram de paraibanos, mas que há um número significante de pessoas que recorrem ao serviço, no Estado. Ele destacou, ainda, a importância de divulgar o CVV.

A promotora Jovana Tabosa ressaltou a importância do CVV e de outros serviços de escuta e atendimento especializado. Ela destacou que qualquer pessoa pode entrar em surto psicótico e, que muitas vezes, uma conversa na hora certa pode desconstruir uma ideação suicida. Dentro dessa perspectiva, foi destacado pelo gerente médico do Hospital de Trauma de João Pessoa, Fagner Barroso Martins Dantas, o projeto “Ressignificando vidas”, que atende pacientes que tentaram suicídio e aos familiares de vítimas fatais.

A psicóloga Mônica de Moraes e Andrade evidenciou que a maioria dos casos de pessoas com ideações suicidas está relacionada a diagnósticos depressivos. Em relação aos jovens, ela mencionou que as causas mais recorrentes estão relacionadas ao bullying e às frustrações do cotidiano. O médico Fagner destacou, ainda, que, algumas vezes, é preciso 'desfocar' ou ter mais de um foco na vida, pois pessoas que, geralmente, vivem somente para uma coisa, podem estar mais sujeitas a ter problemas quando seus objetivos não são alcançados.

Projeto-piloto
O psicólogo técnico da Coordenação de Saúde Mental da SES-PB e vice-presidente do Conselho Regional de Psicologia, Lucilvio Silva, falou da importância de se pensar em um projeto-piloto para acompanhamento do usuário e da família, que possui caso de incidência de suicídio. Além disso, ele enfatizou que seria interessante trazer às reuniões algum usuário que já passou/passa por tratamento de prevenção ao suicídio, para que participasse das discussões.

Além dos representantes mencionados, ainda participam da reunião, Maria Aparecida Silva de Mélo, do CVV-JP; Mariângela Aciole da Silva, psicóloga do Hospital Municipal Valentina; Bruna Carla Cordeiro Carvalho, consultora jurídica da SMS-JP; Alice Correia Lucena de Sousa, e Jacilene Rodrigues do Nascimento, representantes do Hospital Edson Ramalho; tenente José Carlos da Silva Júnior, do Corpo de Bombeiros; Rafaella Katharina Espínola Lacerda, do Hospital de Trauma de JP; Lielma de Oliveira Araújo, do Hospital Municipal do Valentina e Anelissa de Brito Gomes. O termo de audiência foi registrado pela assessora jurídica da Promotoria, Priscila Serpa de Souza Batista.