Nota Técnica será elaborada para orientar serviços sobre atendimento aos casos de suicídio
Uma nota técnica sobre a notificação, prevenção, posvenção e assistência às famílias enlutadas e aos sobreviventes de tentativas de suicídio deverá ser elaborada pela coordenação de Saúde Mental da Secretaria Estadual de Saúde (SES-PB) e pela Coordenação do Núcleo de Estudos em Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba (Nesc/UFPB), para que seja adotada pelos serviços de saúde. O documento considerado estratégico e fundamental para o enfrentamento do suicídio deverá ser apresentado no dia 8 de maio, ao Grupo de Trabalho de Prevenção ao Suicídio, coordenado pela Promotoria de Justiça de Defesa dos Direitos da Saúde da Capital.
A medida foi deliberada em reunião realizada na tarde dessa quarta-feira (10), na Sala de Sessões da Procuradoria-Geral de Justiça, em João Pessoa, com representantes da universidade, de serviços hospitalares e de emergência, de serviços e projetos que prestam apoio e assistência às pessoas com sofrimento psíquico que podem levar a pensamentos de autodestruição, Polícia Militar e Núcleo de Medicina e Odontologia Legal (Numol).
A reunião foi presidida pela promotora de Justiça Jovana Tabosa. Na ocasião, foram discutidas as dificuldades para elaboração do projeto de apoio às famílias de pessoas que cometeram ou tentaram cometer suicídio, como a ausência ou insuficiência de psicólogos e psiquiatras nos serviços públicos.
A representante do Numol, Renata Maia, informou que o serviço só dispõe de uma psicóloga que, atualmente, desenvolve trabalho na perícia criminal. Ela reconheceu a necessidade do projeto. “Somos um serviço em que temos que lidar com pessoas nos piores momentos da vida delas, seja porque elas sofreram violência ou porque perderam um ente querido. E isso gera situações muito difíceis para os próprios profissionais também”, disse. Além do Numol, a Polícia Militar também relatou dificuldades enfrentadas para fazer esse tipo de atendimento.
Atendimentos aumentam 22% no Trauma
Segundo a representante do Hospital de Emergência e Trauma da Capital, Niviane Ribeiro, houve um aumento no número de atendimentos de casos de suicídios no serviço. De janeiro a março deste ano, o Trauma registrou 45 casos de suicídio. No mesmo período deste ano, foram 55, o que significa um aumento de 22%
Ela falou da importância do projeto “Ressignificando Vidas”, que vem sendo implementado no hospital e apresentou o procedimento padrão com o fluxo de atendimento às vítimas de tentativa de suicídio para que seja replicado em outros serviços. Também falou que muitas das demandas atendidas no Trauma são encaminhadas pelas UPAs, que não dispõe de psicólogos, e que acabam fazendo encaminhamentos informais dos pacientes para serviços de psicologia, o que não tem surtido efeito.
Entraves e sugestões
Outros entraves colocados em pauta na reunião foram o despreparo generalizado dos profissionais para lidar com casos de suicídio e familiares dessas pessoas e a desorganização da rede de saúde para fazer o atendimento adequado desses pacientes, com referência e contrarreferência.
Algumas das medidas sugeridas para superar isso são a realização de cursos de capacitação e humanização para os profissionais de toda a rede sobre o assunto e a criação de grupos de apoio para esses profissionais que lidam diretamente com esses pacientes, seus familiares e familiares que vivem o luto porque perderam um parente para o suicídio. A ideia é trabalhar mitos e preconceitos relacionados ao suicídio, para que todos se engajem na adoção de medidas que podem facilitar a identificação e a busca ativa de quem vive o problema para que as pessoas sejam submetidas ao tratamento de saúde mental adequado.