Acessibilidade  |      

GT de Prevenção ao suicídio discute prevenção do suicídio com recorte de gênero e idade

Pessoas entre 20 e 69 anos são as que mais são vítimas de lesões autoprovocadas, entre as quais podem estar vítimas de violência doméstica. As mulheres (de uma forma geral) formam a maioria quando examinadas as tentativas, embora elas sejam mais concretizadas entre os homens. Essa situação foi discutida na na última reunião do Grupo de Trabalho de Prevenção ao Suicídio criado no âmbito do Ministério Público da Paraíba, nessa quinta-feira (06/07). O GT tem a participação de integrantes do Ministério Público Federal e de órgãos envolvidos com a temática, e está realizando uma série de reuniões a fim de discutir abordagens e ações para o próximo mês, o “Setembro Amarelo”. Uma das maiores preocupações do grupo é passar informações corretas sobre o fenômeno que é um problema de saúde pública, como reconhecer ideações suicidas e onde buscar ajuda. Para o Ministério Público, esse conjunto de providências demanda órgãos públicos e toda a sociedade.

A reunião foi conduzida pela 49ª promotora de Justiça de João Pessoa, Jovana Maria Silva Tabosa, que atua na área da saúde, dentro do procedimento administrativo 002.2018.008830. O encontro contou com a participação da promotora de Justiça Dulcerita Soares Alves; do coordenador da Residência Médica em Psiquiatria da Universidade Federal da Paraíba, o médico Alfredo José Minervino; das representantes da Coordenação Estadual de Saúde Mental, Leyliane Cristina, e do Conselho Regional de Psicologia da Paraíba, Arethusa Eire Moreira de Farias; da sanitarista da Secretaria Municipal de Saúde, Heloisa Wanick; da assessora jurídica do Cosems-PB, Clarissa Dantas; da vice-coordenadora da Residência Multiprofissional em Saúde Mental (Resmen/UFPB), Roberta Cláudia Dos Santos; do representante do Corpo de Bombeiros da Paraíba, 1° Tenente José Carlos Da Silva Júnior e da ativista social, Aparecida Melo.

A promotora Dulcerita Alves agradeceu o convite e falou sobre o seu trabalho no enfrentamento à violência doméstica, destacando que as vítimas, na maioria das vezes, pedem proteção e apoio psicológico. “Essas mulheres perdem a autoestima, apresentam baixo rendimento no trabalho ou na escola e até ideação suicida. É importante que a campanha de prevenção ao suicídio  aborde os sinais ou comportamentos a serem observados para que se busque a ajuda profissional, psicológica ou psiquiátrica, bem como os locais onde buscá-los”, ressaltou. 

Já a representante do CRP, Arethusa Eire, disse que, estudando o suicídio enquanto fenômeno social e de saúde pública, sempre se depara com a questão psicossocial da violência doméstica e que  no CRP-13 existem grupos de trabalho que discutem a violência de gênero. Ainda segundo ela, está sendo elaborando uma nota orientativa aos profissionais para auxiliar na identificação dos fatores de risco para ideação suicida, como decorrência da Lei de Prevenção ao Suicídio e que, nos atendimentos psicológicos, sempre se busca aferir até que ponto a violência doméstica sofrida afetou o campo existencial do paciente e da sua família.

Roberta Rocha disse que, na Residência Multiprofissional em Saúde Mental da UFPB, que coordena, tem discutido sobre o aumento dos casos de violência doméstica durante a pandemia e que o isolamento social decorrente da pandemia dificultou o acesso à rede de serviços de proteção às vítimas dessa violência. 

Dados: mulheres são maioria

Heloisa Wanick, da Vigilância Epidemiológica Municipal, disse que os dados de 2019 e 2020 (até o dia 23/07) revelam um total de 2.581 notificações de violência, sendo 1.195 autoprovocadas, o que representa um percentual de 46%. Segundo ela, considerando esses dois últimos anos, a prevalência dos números é de mulheres, uma vez que das 1.194 notificações, 834 se referiam a mulheres e 360 a homens. Em 2020 (até 23.07) foram constatadas 325 notificações gerais, das quais 46,2% são de violência interpessoal e autoprovocada. 

Em relação aos óbitos por suicídio foram registrados 43 em 2019, sendo 33 masculinos e 10 femininos e, até meados de julho de 2020, constam 19 óbitos por suicídio, sendo 14 de homens e cinco de mulheres, apontando que as tentativas entre os homens são mais fatais. Os dados mostram que as tentativas e os óbitos também não ocorrem apenas em bairros populosos ou de baixo poder aquisitivo, mas espalhados por toda a cidade, com prevalência nos bairros do Cristo, Mangabeira, Valentina, Antiplano, Manaíra e Tambauzinho. A faixa etária prevalente é de 20 a 69 anos de idade. Apesar dos dados, segundo ela, não há estudos na secretaria que comprovem a ligação da violência doméstica e familiar com as tentativas de suicídio. 

É mito. Falar não aumenta casos

O médico Alfredo Minervino afirmou que há estudos que mostram um aumento de 25% a 27% de violência doméstica durante a pandemia, principalmente contra menores de idade e mulheres, na maioria das vezes ligado ao uso abusivo de álcool. Ele ressaltou que, em relação ao Brasil há uma dificuldade para a coleta de dados nesse sentido, uma vez que se depende do registro de ocorrências policiais, o que nem sempre é feito, dificultando o acesso aos números reais. Ele também disse que é possível presumir que os idosos também sejam vítimas dessa violência. O médico  também lembrou que é mito achar que falar de suicídio pode incentivar outras pessoas a se suicidarem e ressaltou que o que não se pode propagandear é a forma como o indivíduo tentou ou consumou o suicídio, mostrando cenas de fatos ocorridos, conduta esta que pode inclusive tipificar crime. 

Segundo ele, é muito importante a divulgação sobre como identificar uma ideação suicida e sobre os locais onde se pode buscar ajuda e que o site da Associação Brasileira de Psiquiatria possui cartilha orientativa sobre o tema. Ele disse, também, que a tentativa de suicídio é uma emergência médica e muitas das vezes os hospitais gerais e os médicos não possuem preparo para lidar com pessoas que tentam o suicídio. Ele agradeceu o apoio do Ministério Público (do MPPB e do MPF) na cobrança para a implantação dos leitos de psiquiatria do Hospital Universitário Lauro Wanderley, que serão implantados. Ele ressaltou que, entre os serviços que podem ser buscados para tratamento das pessoas com sofrimento psíquico, estão os ambulatórios do HULW, da Famene e os Caps e opinou que a campanha do Setembro Amarelo deve ser direcionada ao público que mais tenta o suicídio, que são as pessoas de 20 a 59 anos, através das redes sociais, da TV e do rádio, respondendo perguntas do tipo “o que fazer diante de alguém que tenta o suicídio?”.

O representante do Corpo de Bombeiros disse que o órgão possui um curso de especialização denominado Curso de Atendimento às Vítimas de Tentativa de Suicídio, que teve a primeira turma formada em 2019 e segunda está em andamento. Ao curso foi acrescentada a disciplina de gerenciamento de crises, que traz conceitos sobre abordagens técnicas e tentativas de suicídio. 

Jovana Tabosa explicou que a reunião foi agendada com o objetivo de dar continuidade às discussões sobre a programação da campanha “Setembro Amarelo”. A promotora de Justiça disse que ficava satisfeita de saber que o HULW está implantando os leitos psiquiátricos cobrados já há algum tempo pelo MPF e o MPPB. Entre os encaminhamentos deliberados estão o agendamento de nova reunião para o próximo dia 20, às 10h, com o intuito de finalizar os encaminhamentos e as ações da campanha do Setembro Amarelo.

CONTATOS

 

Telefone: (83) 2107-6000
Sede: Rua Rodrigues de Aquino, s/n, Centro, João Pessoa. CEP:58013-030.
Contatos das unidades do MPPB 

 

 

 

 

 

Telefone: (83) 2107-6000
Sede: Rua Rodrigues de Aquino, s/n, Centro, João Pessoa. CEP:58013-030.

mppb

/* VLIBRAS */
/* CHATBOT */