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Evento do MPPB reuniu especialistas para falar sobre masculinidade tóxica e violência de gênero

O Ministério Público da Paraíba (MPPB) promoveu, na noite dessa segunda-feira (17), um webinar para discutir um dos maiores desafios da sociedade brasileira: a violência de gênero. Os debates contemplaram questões como a construção social sobre masculinidade e o papel de homens e mulheres na sociedade; sexismo; patriarcalismo; igualdade de direitos e grupos reflexivos como estratégia para o enfrentamento desse fenômeno, considerado multicausal e complexo. 

O evento foi idealizado pela Promotoria de Justiça de Defesa da Mulher Vítima de Violência Doméstica de João Pessoa e pelo Núcleo de Gênero do MPPB, com o apoio do Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional (Ceaf) para comemorar os 14 anos da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06), sancionada no dia 7 de agosto de 2006. “A opressão de gênero ainda faz parte da sociedade brasileira e é resultante de conceitos ultrapassados e de padrões de comportamentos estereotipados que, desde cedo, são ensinados aos meninos e eles, na vida adulta, vão reproduzir esse comportamento que é prejudicial às mulheres com quem irá se relacionar e a si próprio, como os estudos demonstram”, disse debatedor do evento, o promotor de Justiça de Defesa da Mulher de João Pessoa, Rogerio Rodrigues Lucas de Oliveira.


O webinar - destinado a integrantes do Ministério Público de todo o País, a integrantes dos serviços que integram a rede de proteção à mulher, estudantes, operadores do Direito e comunidade em geral – teve como palestrantes o professor doutor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Benedito Medrado; a professora doutora em Psicologia Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Ana Raquel Torres, e o coordenador de grupos reflexivos para homens autores de violência contra a mulher do Tribunal de Justiça do Distrito Federal, João Wesley Domingues.

A promotora de Justiça de Defesa da Mulher da Capital, Rosane Araújo – que também idealizou o evento – destacou a importância dos assuntos trazidos pelos palestrantes. “Sempre é urgente, necessário e indispensável se debater sobre a violência de gênero, que é fruto do patriarcado, de uma relação de poder que delega ao homem o domínio e à mulher, a subordinação e onde até é legitimada essa violência. É para entender essa masculinidade violenta que fizemos esse evento”, falou.

Masculinidade como uma construção social

Medrado falou sobre as masculinidades na contemporaneidade e sua relação com a violência de gênero, discutiu questões culturais, estruturais e históricas que influenciam na construção de modelos de masculinidades e apresentou uma reflexão sobre o comportamento de homens durante a pandemia do novo coronavírus.

Segundo ele, além do aumento da violência doméstica contra mulheres registrado no isolamento social, as pesquisas apontam que os homens são as maiores vítimas da covid-19 (60% das pessoas mortas no Brasil são do sexo masculino) e também os principais vetores de transmissão da doença.

Para o pesquisador, fatores psicossociais, como o fato de serem eles os mais resistentes ao uso de máscaras (consideradas, muitas vezes, como marcador de “fragilidade”); o sentimento de invulnerabilidade e a crença de que a covid-19 só atinge os mais frágeis, além da demora dos homens na busca pelos serviços de saúde ajudam a explicar essa situação. “Quando falamos de masculinidade, estamos falando de uma construção social, que não está no corpo e que se define a partir de um lugar. No campo da saúde, por exemplo, define-se nas noções de menos prevenção e mais risco, sendo o risco constitutivo da socialização e sociabilidade masculina”, explicou.

Ele também falou sobre a violência doméstica, a “naturalização” da violência contra a mulher e da violência enquanto característica da masculinidade. “É preciso pensar a violência contra a mulher a partir de uma matriz psicossocial sobre masculinidade e faminilidade. Existe um modelo central de masculinidade que influencia o modo como as pessoas entendem a violência. Esse modelo é orientado nas perspectivas sexista; heteronormativa e portanto, LGBTfóbica; racista, patriarcal, colonial e predominantemente branca. No Brasil, a política é orientada a partir de posições masculinas e essa matriz ainda impede a mulher de ocupar espaços públicos, de poder e comando e dificulta o exercício de direitos, incluindo os direitos reprodutivos. Se não modificarmos as estruturas sociais e não fizermos o enfrentamento mais radical para mudar isso, não vamos conseguir chegar ao horizonte que queremos”, concluiu.

Importância e eficácia dos grupos reflexivos

Há 11 anos assessorando juízes do Distrito Federal que atuam no enfrentamento da violência doméstica contra a mulher, o bacharel em Direito e psicólogo João Wesley Domingos falou sobre a importância dos grupos reflexivos para homens. Segundo ele, a estratégia traça um novo paradigma pautado em um modelo de justiça restaurativa e não apenas punitiva que está sendo responsável por mudar a mentalidade e o comportamento de quem já agrediu uma mulher.

De acordo com o palestrante, pesquisas apontam que apenas 2% dos homens que participaram dos grupos reflexivos voltaram a agredir uma mulher. “O fenômeno da violência precisa ser visto de forma sistêmica. O agressor também faz parte do ciclo de violência praticada contra a mulher e não se obtém êxito nos grupos reflexivos para homens, quando o viés é apenas punitivo. Precisamos entender a importância do processo restaurativo na vida desses homens. O grupo reflexivo parte da premissa da atenção, educação, intervenção, escuta, restauração e, principalmente, responsabilização desses homens. A violência para esses homens sempre foi naturalizada e maioria não se responsabiliza espontaneamente pela violência cometida. Se não há autorresponsabilização, não há mudança de conduta e comportamento. Os homens devem entender a violência que praticaram, devem entender que a violência não deve ser banalizada e nem justificada e perceber que há outras formas não violentas de se comunicar. Temos percebido a eficácia dessa intervenção feita pelos grupos reflexivos para homens”, disse.

Homens igualitários

Já a professora da UFPB, Ana Raquel Torres, falou sobre pesquisas realizadas com jovens universitárias e universitários sobre sistemas de crenças e construção de papéis sociais que ancoram perspectivas de como homem e mulher devem se comportar na sociedade.

Segundo ela, os estudos revelaram que homens e mulheres compartilham da ideia de que o homem defender a igualdade de gênero, sobretudo em relação às responsabilidades nas tarefas domésticas e no cuidado com os filhos, é uma coisa feminina e não masculina. Isso demonstra a adesão de homens e mulheres às ideias patriarcais, a dimensão ambivalente do sexismo e a necessidade de homens e mulheres refletirem sobre a urgência de reconstrução das normas sobre os papéis sociais.

Conforme explicou a palestrante, homem igualitário é o que quebra os padrões normativos e defende a igualdade entre homens e mulheres em todas as áreas. “Os estudos mostraram que os homens igualitários são estigmatizados, estereotipados e percebidos como menos competentes. São preteridos nos processos seletivos de trabalho, principalmente quando defendem que a responsabilidade no cuidado dos filhos deve ser igual para homens e mulheres”, disse.

Para a pesquisadora, o grande desafio para o enfrentamento da violência contra a mulher “não é só fazer com que o homem entenda que o que ele fez é errado e inaceitável, mas entender também que existem diferentes formas de relacionamentos entre homens e mulheres e que a igualdade não põe em questionamento a masculinidade dele”.

Para assistir ao webinar na íntegra, clique AQUI

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