Integrantes do MPPB iniciam curso de atualização sobre mentes sombrias

Começou na manhã desta sexta-feira (20/09) o “Curso de Atualização sobre Mentes Sombrias”, que está sendo promovido pelo Centro de Estudos e Aperfeiçoamento Funcional do Ministério Público (Ceaf/MPPB) a membros, membras, servidores, servidoras, assessores e assessoras da instituição, de forma híbrida. 

A capacitação - que será ministrada pelo reitor e professor do curso de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Valdiney Veloso Gouveia - foi aberta pelo procurador-geral de Justiça, Antônio Hortêncio Rocha Neto, no auditório da Procuradoria-Geral de Justiça, em João Pessoa. “É com grande honra e satisfação que recebemos o professor e reitor da querida UFPB para falar de um tema tão importante. Parabenizo, mais uma vez o Ceaf pela organização do evento e desejo a todos uma excelente aula e que possamos aprender com os ensinamentos que serão trazidos a partir de hoje”, disse.

A coordenadora do Ceaf, a promotora de Justiça Anita Bethânia Rocha, explicou que, em razão da grande procura, o curso que inicialmente foi pensado para ser realizado no formato presencial precisou ser readequado e que a opção por torná-lo híbrido teve como objetivo viabilizar a participação dos integrantes da instituição que estão no interior do Estado. “O Ceaf está promovendo esse curso que facilitará nosso trabalho, por nos proporcionar uma visão geral sobre pessoas com mentes sombrias e nos apresentar casos práticos”, disse, referindo-se a pessoas com traços de personalidade psicopata, narcisista e/ou maquiavélico que praticaram crimes graves de repercussão nacional.

Mentes sombrias

Conforme explicou o professor da UFPB, o curso abordará traços de personalidade; condutas de risco; comportamento antissocial; delitos e crimes. “Vamos traçar o que é a natureza humana. Há uma ambiguidade: afinal, ela é benévola ou ela é malévola? E a gente vai tentar esclarecer o que acontece e desde logo: ninguém é puro anjo ou demônio. Existem as duas possibilidades. Depois, trataremos dos principais traços de personalidade sombrios: maquiavelismo, psicopatia e narcisismo, caracterizando e mostrando como são as pessoas que possuem esses traços e finalmente, procuraremos aplicá-los, ou seja, apresentar perfis que se conheçam já de criminosos e mostrar porque eles apresentam tais traços de personalidade e também dar a oportunidade para que possamos analisar pessoas que não estão nesse rol de (criminosos) famosos, mas que também apresentam esses traços. A possibilidade é que a gente tenha condições de reconhecer, ao nosso lado, pessoas que também têm esses traços e que possam estar nos prejudicando o tempo todo e a gente sendo vítima incessantemente dessas pessoas”, disse. 

Ele também destacou a importância da capacitação para a atuação ministerial: “O Ministério Público lida com diversas demandas de pessoas que chegam na instituição por vezes falando que são vítimas, mas são vítimas ou fazem vítimas? O Ministério Público lida também com crimes e, afinal, quem são essas pessoas criminosas? Há possibilidade de resgatarmos ou recuperar uma pessoa que comete ato de atrocidade? O ato de atrocidade pode ser cometido, por exemplo, por uma cultura de honra - e não tem nada a ver com traços de personalidade psicopata, maquiavélica e narcisista -, mas também pode ser cometido por esses traços e essas pessoas vão seguir cometendo atrocidades. Então, dar a liberdade a essas pessoas significa que elas estão aptas a se recuperarem? Agiram sempre da mesma forma, sempre buscarão benefícios próprios porque desconhecem qualquer pacto social. Para eles só existe um elemento que importa: eles mesmos”, disse. 

Punibilidade

O professor universitário destacou que pessoas com traços de psicopatia, narcisismo e/ou maquiavelismo que praticam crimes não devem ser considerados inimputáveis. “Eles não podem ser considerados inimputáveis porque eles são cientes e conscientes de todos os seus atos; eles planejam com antecedência todos os seus atos e a mentira, por exemplo, no caso do maquiavélico, é muito planejada. Então, elas são plenamente imputáveis e é bom que a gente saiba qual é o grau de recuperação dessas pessoas. Não há possibilidade de recuperar um psicopata. Ele pode viver em sociedade?: Claro que pode e a maioria vive. Na verdade, uma parcela muito pequena está em cárcere, está presa. A maioria convive conosco”, disse.

Segundo Gouveia a educação e, sobretudo a família, exercem um papel fundamental para viabilizar o convívio em sociedade de pessoas com transtornos antissociais. “Essas pessoas não têm tratamento e a solução é a educação. Só existe uma coisa a fazer, sobretudo com o psicopata: é identificá-lo prematuramente, ainda criança, e poder educá-lo para a convivência em sociedade. Eles não vão deixar de ser psicopatas, mas vão aprender que a convivência em sociedade e respeitando as regras sociais é muito mais proveitosa do que a convivência dele agindo por ele, com seus interesses e passando por cima de todo mundo. Nesse sentido só tem uma solução, que é a educação para a convivência em sociedade e isso implica a todos, sobretudo o seio familiar. As primeiras regras se aprendem em casa e precisam ser muito claras para mostrar que se a pessoa agir dessa forma, pode ter um ganho agora, mas lá na frente, perderá mais do que ganhará”, disse.

A atualização continuará nos dias 27 deste mês e 11 e 18 de outubro, das 8h30 às 12h30, totalizando carga horária de 16 horas/aula, que poderão ser computadas, pelos servidores do MPPB, para fins de progressão funcional.